Eu vejo-te.
Eu sei que metade das coisas que tu queres, tu achas que não mereces.
Mas não há maneira de ver isso só de olhar para ti. A tua eloquência fala pouco do que te dói. Tornaste-te especialista em entreter as tuas próprias dores. Isso é uma prática comum usada por todos aqueles, cuja infância não revogou a tempo, o despacho de serem crianças.
Mas eu vejo-te bem Isabelinha.
Vejo que és talentosa, que escreves com tanta pressa, para que a alma não tenha tempo de filtrar as coisas que podes não querer dizer.
Vejo-te a dar aos outros. Às vezes até tenho medo por ti. Só porque sei da verdade intocável com que escreves e nada sei da forma e dos olhos dos que te lêem.
Vejo-te bondosa com os outros, sempre a tentar fazer felizes os que se cruzam contigo. Vou te dar colo, todo, todo, de tudo o que te precisares para te nutrires. Vou te encher de segurança, para que nunca mais tenhas medo, que o manhã desminta o que a noite prometeu.
Vou te tocar devagarinho no corpo e vou te amar sem pressa, porque sei que o que tenho em mãos, é do mais humano e precioso que se pode ter. Vejo-te bem Isabelinha.
Vejo a tua energia contagiante e a vontade que tens de tornar a vida tão menos fardo, tão menos enfado, tão menos pesado.
Sei que não queres que resgatem a criança porque ainda tens medo de ti pequena. Porque é daí, que vem o medo do escuro, do abandono e da solidão. Vejo-te forte agora, senhora do teu destino, prática, brava, desportiva e tão aventureira, que nem parece que toda a tua vida foi risco e trapezismo.
Agora, já podes dizer a quem amas de onde vens.
Pode olhar à volta e ver-te, rodeada de gente que te ama só pela graça do que és. Ninguém te pede mais para ser enorme ou transparente. Mas os que te amam, querem fazer-te perguntas, querem saber de ti, querem te ouvir falar dos lugares da dor, até que nada doa mais.
Isabelinha. Estás em casa, estás segura, estás comigo, no meu colo, eu estou aqui.
Podes falar. Eu prometo que eu não largo a tua mão. Que te vou enfeitar a cabeça com festinhas até adormeceres, e que nunca mais te vais ter que esconder para chorar.
Nem maquilhar os teus traumas com piadas, só porque ganhaste o jeito para fazeres os outros rir. Tens jeito para viver, as pessoas sabem disso.
Não te esqueças tu também.
Que o maior dom que te deram não foi a lucidez de ver para além do óbvio, o dom da escrita, o talento para a fotografia, a graça das tuas analogias em catadupa, a tua inquietude ou o teu apreço pelo amor à Liberdade.
O teu maior valor é a bondade. Aquela que nunca foi espezinhada pela vida, mesmo quando um dia, decidiste quando eras adolescente que não querias mais viver.
E nunca percas isso. Porque o mundo está cheio de talentos, Isabelinha.
Mas gente boa nunca sobeja e nunca é demais.
Estou aqui.
Eu vejo-te.
Isabelinha.
Uau!!!!
Esta carta parece que foi escrita diretamente para mim! Preciso de colo, de amigos, de partilha! 😓