Não nascemos para bater o ponto.
Nascemos para bater em pulsação.
Freelancer é ser lança livre. Pelo menos, foi sempre assim que assumi o termo,
É viver entre a urgência da renda e o luxo da liberdade. É acordar às 11h ou às 6h, dependendo das urgências que propuseste a ti. É trabalhar de pijama com ideias em bicos de pés.
Não temos chefe, mas temos deadlines. Não temos colegas, mas temos 17 abas abertas do chrome, cafés que já são extensão do escritório, e aquela voz interior que diz: “podias estar a fazer mais”.
Podias, sim. Mas também podias estar a viver menos.
Ser freelancer é conhecer a solidão do horário flexível, mas também o orgasmo mental de um projeto entregue à unha. É gerir a agenda como quem faz malabarismo com facas. É lidar com clientes que querem “só um ajuste” e os que acham que o nosso trabalho é um favor. Spoiler: não é. É o nosso pão. E a nossa luta. E a nossa assinatura no mundo.
Mas também é isto: a possibilidade de parar numa terça-feira à tarde para ir ver o mar ou não ver nada. De dizer não a projetos sem batimento, de escolher só os trabalhos que nos acendem por dentro (quando o saldo o permite). De manter o pulso firme, mas o coração mole.
E sobretudo, ser freelancer é acreditar que ainda é possível trabalhar com verdade, sem deixar de ser gente.
Mas também é isto: dias inteiros em que não somos ninguém.
Sem mail. Sem likes. Sem retorno.
Há uma espécie de fé cega em ser freelancer.
Um acreditar doido de que vai dar certo,
Mesmo quando nos dizem: “mas porque é que não arranjas um trabalho normal?”
Como se normal fosse sinónimo de feliz. E ninguém sabe o que é ser normal, anormais.
Não há salário certo. Mas há um certo orgulho.
De ter escolhido o caminho que não vem nos manuais.
De ter montado uma vida à nossa medida, mesmo que, às vezes não caiba na medida dos outros, nem na medida dos sonhos todos, que tínhamos para nós.
E quando falha, choramos sozinhas.
No carro, no duche, nas entrelinhas de um texto que não sai.
Mas depois respiramos.
Voltamos à folha. À lente. À luta.
E é aí que nos reencontramos.
Na persistência miúda de quem escolheu ser livre.
Ser freelancer não é uma profissão.
É uma declaração de independência.
É saber que mesmo quando o mundo não nos escolhe,
nós escolhemos continuar.
A escrever. A criar. A fazer parte.
E isso tem muita arte,
da qual, o medo, faz parte.
Desta vossa lança livre,
Isabel Saldanha
*E a minha querida amiga Rafa, definiu isto muito bem…
ARTIGOS & VÍDEOS COM FÔLEGO (e cérebro):
“Why Freelancing is the Future of Work” – BBC Worklife
Um artigo sobre como a gig economy está a redefinir o que significa ter uma carreira.
🔗 bbc.com/worklife/article/20220414-why-freelancing-is-the-future-of-work“The Myth of the Lazy Freelancer” – TEDx Talk por Rebecca Seal
Uma ode à disciplina invisível de quem trabalha por conta própria.
📽️ youtube.com/watch?v=Y9UQ7cM9p3Y“How Freelancers are Redefining Success” – 99U by Adobe
Histórias reais, sem filtros de Instagram, sobre trabalhar para o mundo sem deixar de trabalhar para si.
🔗 99u.adobe.com/articles/75425/how-freelancers-are-redefining-success“Freelance Doesn’t Mean Free” – Nisha K. Sethi (spoken word)
Para quando precisares de uma chapada poética sobre o teu valor.
📽️ youtube.com/watch?v=ejquWb6sSdw
Minha amiga e, agora, também companheira de trincheiras de lança livre em punho! Descreveste a mais bela dança como ninguém. Saúdo-te! 💛
Subscrevo tudo o que escreves nesta carta. Também eu sou lança livre desde o primeiro dia de trabalho. Ou talvez já o fosse até antes. E não me imagino (pelo menos para já) a trocar o conforto de um contrato pela responsabilidade/liberdade de gerir o meu tempo. Consegues sempre encontrar as palavras e a forma de as organizar para enquadrar bem um assunto. 🙏🏼Abraço forte