Acho que sou profundamente feminina nas minhas dores.
Quando o vazio chega como uma cortina sobre o dia cheio, sofro da nostalgia de tudo o que podia ter sido, se ao menos fosse…
Percebo o ridículo do pensamento e mesmo assim incubo.
Raramente vou ao passado, viajo para o futuro improvável e fico por lá, entregue à alucinação das infinitas possibilidades. Já não lhe chamo saudade, porque não merece esse nome, é um desmazelo voluntário, uma entrega à utopia do melancólico, uma alucinação morna, um cozer doce em água sempre fria.
Um dia fizeste um circulo à minha volta, na areia preta e sussurraste-me ao ouvido: Qualquer dia amo-te. Gosto de recordar que corei. Que nunca ganhei ou perdi cor, por frase dita ou frase feita. Que sempre fiquei igual.
Nesse dia estava frio e senti as minhas bochechas a aquecerem, na esperança terna dessas frases, que a paixão arranca à verdade, do que ainda não tem maturidade para sentir.
A tua mão sobre o meu rosto em concha e logo a minha mão.
A vontade de fechar os olhos e manter-me simultaneamente acordada, entrega e vigilante.
Às vezes penso que nunca devia ter saído desse circunferência perfeita. Que faz sempre frio cá fora. Que perdemos o jeito quando nos pomos em pé, que queria vacilo na tontura do amor.
De pernas cruzadas, de casaco de penas, de boina quente, de mão na mão, ao lado da cana tombada que fez de giz no nosso quadro.
Eu e tu. Ou eu e tu e os meus sonhos para nós.
Qualquer dia eu amo-te.
Isabel Saldanha
Agarrar na vida e fazê la das nossas histórias. Que bonito amiga!
Tão bonito <3